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2.12.04

Das dissoluções às moedas

O Presidente da República resolveu, anteontem, dissolver a Assembleia da República. Há quatro meses atrás, quando o Presidente resolveu não dissolver esta mesma Assembleia – aquando da saída de Durão Barroso para a chefia da Comissão Europeia – eu apoiei a sua decisão, como garantia de estabilidade para o país – bem tão necessário para o desenvolvimento do mesmo. Contra o Presidente estiveram todos os partidos na oposição, num processo que culminou mesmo na demissão de Ferro Rodrigues de secretário-geral do Partido Socialista. A favor estiveram o PSD e o PP, como seria de esperar, juntamente com as várias associações empresariais e industriais do país. A estabilidade era – é – um valor inestimável e fundamental para o desenvolvimento de Portugal.

Ao mesmo tempo que nós, os “pró-não-dissolução”, aprovávamos a investidura de um novo Primeiro-ministro escolhido pela coligação de poder, engolíamos em seco perante a provável hipótese de Santana Lopes ser o próximo PM. Toda a sua vida política (e não só) anterior – em especial as suas “tendências” populistas e eleitoralistas – levavam a temer o pior. No cômputo geral, no entanto, a busca de estabilidade falou mais alto e, assim, acatámos a subida de Santana Lopes ao mais alto cargo executivo português. Talvez os nossos receios fossem infundados.

Não foram.

E, por essa simples razão, Jorge Sampaio tem todo o meu apoio. E parece, ainda, contar com o parecer favorável de quase todos os “pró-não-dissolução-em-Junho” – excluindo aqueles que têm o benefício directo do poder (infelizmente, quem beneficia de uma situação está normalmente a favor dela, mesmo que a considere globalmente injusta – o “eu” ultrapassa, quase sempre, o “nós”).

A razão de Sampaio para assumir esta difícil decisão, na minha opinião, não se restringe à demissão de um Ministro (o quase inexistente Henrique Chaves). E também não creio ter sido o desejo de se reconciliar com a “sua” esquerda – ao contrário do que afirmam muitos sociais-democratas e populares. Sampaio tinha várias razões, e cada uma delas foi contribuindo para encher um copo – que inclusive já estava meio cheio à partida. Cronologicamente:

1. Polémica Governo/Comunicação Social (episódio Marcelo; episódio RTP; episódio Lusomundo/DN; episódio Central de Comunicação);
2. Manifestações de quebra de confiança por muitos agentes económicos e sociais (todas, repito, todas as associações empresariais e industriais do país se mostraram, por exemplo, descontentes com o novo Orçamento de Estado);
3. Saúde da coligação (o congresso do PSD gerou mazelas difíceis de sarar);
4. Remodelação risível do Governo (com a continuação dos ministros-“tacho” – como Gomes da Silva – que, apesar de demonstrarem toda a sua inépcia governativa se mantiveram no Governo, promovidos a cargos mais “resguardados”…).

Assim, a demissão de Henrique Chaves foi somente a gota que fez transbordar o copo. O Presidente foi, aliás, totalmente coerente na sua postura. O problema é que a estabilidade nacional não foi possível de manter devido à desestabilização governativa. Esperemos agora que, como disse Pacheco Pereira no seu Abrupto e José Manuel Fernandes no editorial do Público de ontem (ambos pegando na deixa de Cavaco Silva), a boa moeda seja capaz de afastar a moeda má…

PS: A situação complicada do país, provocada em primeiro lugar pela demissão de Durão Barroso, deve servir de aviso às mais altas instâncias da União Europeia: vir buscar Primeiros-ministros em exercício pode ser muito mau para o funcionamento do Estado-membro “assaltado”. Que sirva, pelo menos, para reflectir…


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