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30.6.04

Frases VI

“Não pode haver qualquer política consistente, pensando nas eleições e não no povo.”
Lula da Silva

Dulce Pontes e Ennio Morricone

Fui ontem (já anteontem, afinal) ver o excelente espectáculo de Dulce Pontes com Ennio Morricone. O espectáculo realizou-se no meio do parque de Monsanto (anfiteatro Keil do Amaral) - e que excelente local ao ar livre, este, para assistir a este tipo de actuações. Ouvir uma boa música a contemplar, calmamente, o céu estrelado, é como chegar ao paraíso vivo. E o palco, uma cúpula transparente que por vezes mais parecia um pedaço de mar... Algumas notas:

O espaço. De facto é maravilhoso assistir a um concerto no meio de tanta árvore. Estar no "pulmão" de Lisboa refresca a alma, e à semelhança de um passeio junto ao mar, abre o espírito para a música fluir, serenamente.

A voz. A Dulce Pontes esteve em grande. Uma voz portentosa, um talento seguro, uma força calma. Actualmente atrevo-me a chamá-la "A Voz" (portuguesa). Só lhe faltou ligar-se mais ao público (nem sequer um "boa noite" transpirou da sua voz...).

Ennio Morricone. Apesar do seu péssimo feitio, atestado numa entrevista concedida anteontem ao PÚBLICO, as qualidades do artista mantém-se impolutas. A sua música é vibrante e motiva um excelente ambiente.

28.6.04

Bartoon

O Bartoon, de Luis Afonso, é dos espaços mais caricatos e divertidos do jornal Público. É daquelas coisas que eu sei me vai fazer sorrir todos os dias que pego (ou navego) no jornal. Hoje está especialmente mordaz e bem conseguido. Ver aqui.

E deixa - sub-reptícia - a pergunta inevitável: Teremos, amanhã, a política de "impressionismo/populismo" de Santana Lopes espalhada por todo o país?

Presidente da Comissão Europeia

O futuro Presidente da Comissão Europeia é o assunto que faz a primeira página de todos os jornais, diários e semanários, como se pôde verificar este fim-de-semana pela leitura da imprensa nacional. A grande razão que o motiva é a escolha de Durão Barroso como candidato a Presidente. Voltarei a este tema nos próximos dias, mas para já fico-me por outro: os critérios de escolha dos Presidentes da Comissão serão os mais adequados?

A dúvida surge do facto de que uma das principais condições que motivam a escolha de um candidato a Presidente é este ser Primeiro Ministro. Ora isto tem um problema grave. Esse Primeiro Ministro foi eleito democraticamente, e comprometeu-se a cumprir um mandato nacional (normalmente) de 4 anos. Verdade? Bem, não totalmente.

A verdade é que não é o futuro Primeiro Ministro que vai a votos. São os partidos. E a diferença não é despicienda, pelo menos a nível constitucional. Já a nível popular, a verdade é que muitas vezes o eleitor comum vota no líder do partido. Assim, os 40% de votos do PSD nas últimas eleições legislativas foram de factos votos no PSD de Durão Barroso. Se fosse o PSD de Santana Lopes (ou de outro qualquer candidato) as coisas teriam sido diferentes. Para um lado ou para o outro não sei, mas seriam com certeza diferentes. Assim, apesar de constitucionalmente não haver problema (e a opção do Presidente Sampaio vai pela estabilidade - suponho-o), há nitidamente a nível político e popular.

Mas voltando ao assunto que motivou este escrito. De facto é complicada a escolha de um Presidente da Comissão Europeia, já que é dos cargos mais importantes do Mundo. Há, na minha opinião, duas vertentes diferentes:

1. Vertente Europeia: na opinião do Conselho Europeu, o futuro Presidente da Comissão Europeia (PCE) deve ser um europeísta convicto, com um currículo de peso. O mais consensual é ser um Primeiro Ministro (PM), já que é importante a experiência governativa (não esqueçamos que o PCE será o "Primeiro Ministro" da UE).
2. Vertente Nacional: como se está a vivenciar hoje em Portugal, a escolha de um PM para PCE é conflituosa, já que o PM foi eleito pelo voto popular para cumprir um mandato e determinado programa no país, como escrevi atrás.

Assim, destas duas vertentes, surge um conflito bem complicado de resolver. No entanto, na minha opinião, entendo dever ter a Vertente Europeia mais peso na altura de decisão, não impedindo esta situação, no entanto, da ressalva de certos casos específicos nacionais.

24.6.04

Frases V

"Não existe uma definição de estupidez, mas há muitos exemplos"
Baricco

As voltas revoltas de Mercúrio

A revista Nature desta semana contém um artigo do português Alexandre Correia e do seu orientador de Doutoramento Jacques Laskar, intitulado "Mercury: Resonant with chaos". Um resumo do artigo, retirado directamente do site da Nature (infelizmente não se pode ler a versão integral, sem pagamento):

"For many years it was thought that Mercury must be tidally locked to the Sun, just as the Moon is tidally locked to Earth. In the early 1960s radio astronomers found that the dark side of the planet was too warm for it to be tidally locked, and in a classic paper published in Nature in 1965, Pettengill and Dyce used radar observations to determine the rotation rate of Mercury for the first time. Then the problem facing astronomers was how to explain the odd 3:2 resonance in the orbit: Mercury rotates three times on its axis for every two orbits around the Sun. Numerical models suggest that it is unlikely that Mercury could have been captured into this 'resonance' orbit from the start. Now Correia and Laskar show that a 3:2 resonance becomes the likely outcome if an element of chaos is introduced into the evolution of the orbit."

Normalmente os planetas (ou luas) iniciam a sua “vida” rodando a grande velocidade, e vão desacelerando com o tempo (a nossa Terra desacelera 2 milisegundos por século, ou seja daqui a uns milhares de anos o dia vai ter bastante mais que 24 horas!), por acção gravitacional da estrela que circundam. Chega-se a um ponto de equilíbrio, em que o período de rotação iguala o de translação. Este ponto já foi atingido pela maior parte dos satélites dos planetas do Sistema Solar, de que é exemplo a nossa Lua (tem um período de rotação igual ao de translação – 28 dias –, sendo essa a razão de nós vermos sempre a mesma face da Lua). O caso de Mercúrio é mais estranho. Atingiu o ponto de equilíbrio rodando sobre si 3 vezes enquanto dá 2 voltas ao Sol. A razão é explicada por este físico português (e o seu orientador francês): a resposta está na excentricidade da órbita do planeta sobre o Sol ou, por palavras mais simples, tem a ver com o tipo de elipse que esta órbita forma à volta do nosso Astro-Rei.

22.6.04

Constituição Europeia

Na passada sexta-feira, a União Europeia deu um passo gigante: aprovou a sua primeira Constituição Europeia (ou "tratado constitucional").

Há diversos pontos de enorme interesse e importância neste novo tratado, dos quais destaco os seguintes: a) fusão dos tratados até agora existentes na UE; b) regra de decisão por maioria qualificada; c) criação da figura de Presidente do Conselho Europeu (acabando-se com as presidências rotativas); d) criação da figura de Ministro dos Negócios Estrangeiros Europeu.

O fim da unanimidade para decidir parece-me fundamental numa Europa a 25. É complicado agradar a "gregos e troianos", em especial quando são tantos países, tantas pessoas, tantas culturas diferentes. Daqui resta agora esperar para ver o verdadeiro poder de cada um dos países da UE. O perigo de surgimento de um directório é real, mas a verdade é que seria difícil caminhar noutro sentido.

Haver um Presidente do CE fixo é também importante, por uma questão de estabilidade institucional. Tendo algumas das presidências semestrais alcançado excelentes resultados (como esta última, a irlandesa), parece-me que a estabilidade do Presidente pode trazer maior coesão em relação às medidas propostas e tomadas, criando um fio condutor unívoco que é politicamente importante.

A criação da figura do Ministro dos Negócios Estrangeiros (em substituição do Sr. PESC) é uma tentativa de aumentar a visibilidade da UE enquanto "Estado" para que os países fora da União possam ter uma única figura que representa a totalidade da Europa. Prosaicamente, é o número de telefone para o qual o sr. Colin Powell terá de ligar quando quiser falar para a Europa...

Um ponto final mas também crucial é o aumento do poder dos parlamentos nacionais com o novo tratado.

Segue-se agora o referendo a esta Constituição, que em princípio irá ocorrer em Portugal (o que é positivo). Daqui surgem três dúvidas:

1. Qual será a pergunta a colocar aos cidadãos?
2. Qual será a participação dos cidadãos?
3. Qual será a resposta dos cidadãos?

O meu desejo é que haja uma campanha de clarificação acerca dos assuntos europeus para todos os portugueses - já que não o houve para as eleições europeias. Proponho o envio de um resumo dos aspectos fundamentais da Constituição para casa de cada português (explicado de uma forma ligeira e compreensível para o cidadão comum), juntamente com a facilitação (em especial a nível de preço) da compra de exemplares da Constituição - colocando-os à venda em estabelecimentos comerciais, como hipermercados, etc.

Talvez assim se consiga cativar uma maior franja de portugueses para maior participação na nossa União Europeia.

Faço aqui a minha (humilde) contribuição, fornecendo um link para o "Projecto de Tratado que estabelece uma Constituição para a Europa".

21.6.04

Frases IV

"O meu país é a Europa"
Jacques Delors

18.6.04

Colesterol Económico

Nuno Fernandes Thomaz nomeou hoje o desempenho da economia do Eng. Guterres no seu consulado à frente do Governo de Portugal como "colesterol económico", no DE.

Há poucas palavras a exprimir tão bem a realidade...

"A Justiça e Seu Impacte sobre as Empresas Portuguesas"

O trabalho de Célia da Costa Cabral e Armando Castelar Pinheiro (Ministério da Justiça/Coimbra Editora - 2003), citado no título, fez várias entrevistas a diversas empresas nacionais (incluindo muitas das maiores empresas portuguesas) para questionar acerca do funcionamento da Justiça em Portugal. Em relação a um ponto em concreto, a morosidade dos tribunais, 92.4% das empresas afirmaram ser a justiça "má" ou "muito má". Em relação a outro ponto, custos judiciários, 85.2% acham-nos "elevados" ou "muito elevados".

Assim, temos uma Justiça que presta um mau serviço, com custos elevados. O que de pior se podia esperar de um serviço público.

E lembra-nos Francisco Teixeira da Mota: "Convém sempre lembrar que para os cidadãos singulares, na vizinha Espanha, os tribunais são gratuitos. São um serviço que o Estado presta aos cidadãos...".

De Espanha nem bom vento, nem bom casamento... mas com certeza bom julgamento!

Comissão de inquérito aos atentados 11/09

"A Al-Qaeda planeou fazer despenhar aviões contra dez alvos dos Estados Unidos e atacar em simultâneo localizações no Sudeste Asiático. Na manhã de 11 de Setembro de 2001 a defesa área americana agiu de forma desastrosa. O Presidente George W. Bush continuou a ler para crianças durante pelo menos cinco minutos depois de saber que o segundo avião tinha embatido no World Trade Center. E o regime saudita não desempenhou nenhum papel directo no financiamento dos atentados."

Estas são algumas das conclusões do inquérito aos atentados do 11 de Setembro, em 2001, nos EUA. Afinal, parece que a maior potência mundial não estava tão bem preparada como devia. Pior: estava pessimamente preparada. Além disso quem teve as ideias para estes atentados ("só" estes, porque parece que muitos não se concretizaram) não foi Osama Bin Laden, mas sim o até agora desconhecido Khalid Sheikh Mohammed, um kuwaitiano.

A minha reflexão vai agora para este arquitecto kuwaitiano.

Como é que uma pessoa (poderei chamar-lhe pessoa? Pobre Pessoa, que fizeram de teu nome...) dedica anos da sua vida a planear o ataque a milhares e milhares de inocentes. Como é que uma pessoa (chamo-lhe besta?) imagina um plano diabólico tão imenso, que faria o 11/09 parecer uma brincadeira de crianças? Como pode existir um espírito assim, "luciferiano", que passe dias e dias à espera que lhe surjam ideias de como efectuar matanças em massa?

Neste Mundo há certas coisas que custam muito entender.

16.6.04

"Os mesmos são sempre os mesmos"

Retiro o título deste "post" de uma frase do artigo de Helena Roseta no PÚBLICO de hoje. E uso-a para congratular José Lamego pelo anúncio da sua candidatura ao lugar de secretário-geral do PS.

Ontem falava da "derrota" socialista que era a manutenção de Ferro Rodrigues à frente do partido, mas hoje que se conhece o nome de mais este candidato, parece-me que as coisas poderão ser diferentes. Não que não ganhe Ferro, como será provável, mas pelo que esta candidatura trará, com certeza, de debate profícuo. Não esqueçamos João Soares, também candidato. Assim, com uma luta interna entre três "pesos pesados" do PS, poderemos ter uma oposição mais consistente e consciente, o que será desejável para o país.

A grande vantagem que José Lamego traz, em relação aos outros candidatos, é a promessa de uma "aragem" nova nos quadros socialistas. É que, citando Helena Roseta, "os mesmos são sempre os mesmos", e parece-me chegada a altura de trazer novas caras - com novo fulgor - para as lides políticas.

Termino com outra frase brilhante do artigo - de leitura obrigatória - de Helena Roseta: "Mais importante do que andar atrás de ratos, é fechar as portas ao queijo". Não podia estar mais de acordo...

Frases III

"In God we trust. All others must bring data"

Não te cales, Abrupto

Foi com alguma apreensão que li, no Abrupto, que o seu autor, Pacheco Pereira, ia deixar de ter um "papel activo no comentário político". Vai ser uma voz importante a faltar ao necessário debate, vai ser menos uma mente independente a prevenir, a avisar, a questionar.

Fico contente, porém, pela sua merecida nomeação para a Missão permanente na UNESCO, e também pela certeza de que continuará a escrever "sobre outras coisas".

O silêncio total seria uma perda grande no nosso meio (mediático e "bloguista"), até porque a sua "voz solitária" foi muitas vezes a única certa no meio do desassossego.

15.6.04

Afinal, mau resultado do PS?

Quem diria que os resultados das eleições europeias, de tão bons que foram para o PS, passassem a ser "trágicos"? Passo a explicar o meu ponto de vista. Digo isto porque Ferro Rodrigues decidiu recandidatar-se à liderança, o que faz dele o mais que provável candidato a Primeiro-Ministro, pelo PS, em 2006.

Para quem tem visto Ferro Rodrigues como cabeça do PS - não desfazendo as suas qualidades pessoais e humanas - repara que é um líder sem estatura, sem pulso nem carisma. Assim se perde a hipótese Vitorino (a preferível) ou Sócrates (uma incógnita para já).

Ou Ferro Rodrigues altera a sua maneira de liderar, ou me parece ser um candidato menor para concorrer a PM pelo PS.

Assim fica a dúvida. Virou-se o feitiço contra o feiticeiro? Melhor: transformou-se a retumbante vitória na mais que provável derrota? Esperemos para ver... até 2006!

Adenda às eleições

"Como quase sempre acontece nas democracias liberais, não é a oposição que ganha as eleições, são os governos que as perdem. Os resultados das eleições europeias, em Portugal e na maioria dos nossos parceiros europeus, é isso que essencialmente revelam."

Teresa de Sousa, no PÚBLICO

No meu último artigo tinha-me esquecido de mencionar esta importante - e correcta - asserção. Fica registada nas palavras de Teresa de Sousa.

Quem perdeu as eleições?

Há duas grandes derrotas nas eleições europeias, disputadas entre 10 e 13 de Junho em toda a União. Uma das derrotas é europeia. A outra tem o gosto nacional. Começo pela primeira, porque mais importante.

A abstenção (globalmente) europeia

Os valores de participação no acto eleitoral deste fim-de-semana prolongado foram muito baixos. Apenas 45,5% dos eleitores votaram. São resultados decepcionantes, em especial nos novos países da UE. Entre estes apenas 26,4% dos eleitores votaram! É um mau áugurio para o futuro a 25. Poderá não ser só um problema da União Europeia, pode ser um problema dos povos europeus com a democracia, o que na minha opinião é ainda mais grave.

Mas será que o problema é mesmo esse? Ou será que a questão está no défice democrático europeu, de que tanto (e tão acertadamente) se tem falado? Ou será ainda que o problema é Bruxelas ser "longe"? Não creio. Já repararam nas distâncias que separam a Califórnia de Washington? E Vladivostok de Moscovo?

Se calhar até há mesmo um problema de distância, mas não é nada físico. Porque mais grave não é estar-se longe. É sentir-se que se está longe, mesmo estando, por vezes, tão perto...

O PSD

O (verdadeiramente) único derrotado das eleições Europeias em Portugal foi o Partido Social Democrata. Não foi a Coligação Força Portugal (PSD+CDS/PP). Claramente vencedores foram o PS, com uma votação histórica, o BE, com a eleição do seu primeiro deputado europeu (Miguel Portas) e a CDU, que manteve uma votação considerável. Ao contrário da generalidade europeia (o partido europeu vencedor foi o PPE, do qual faz parte o PSD), em Portugal venceu claramente a esquerda. O PP, contudo, não foi derrotado porque manteve o mesmo número de deputados no Parlamento Europeu. Quem perdeu, de facto, foi o PSD. E a abstenção não é desculpa (apesar de que menos de 40% de participação é significativamente pouco), pois houve um claro aviso ao Governo de que o país estaria "aborrecido" com estes governantes.

Que ilações se retiram daqui? Que a junção entre estes dois partidos não tem os votos que os mesmos obteriam em separado. Isso parece-me claro. De facto há uma grande franja de eleitores do PSD que não votam no partido liderado Paulo Portas, preferindo abster-se ou votar PS.

Em jeito de conclusão

O português gosta de facilitismos e de facilidades. Gosta de festa e de futebol. Não gosta de trabalho e de poupança. Não gosta de ler nem de estudar. E a nossa classe política e dirigente muitas vezes incentiva o laxismo, raramente se vê o bom exemplo vir de cima (antes pelo contrário). Assim é difícil reformar o país, assim é difícil renovar as mentalidades...

Quem perdeu as eleições?

Há duas grandes derrotas nas eleições europeias, disputadas entre 10 e 13 de Junho por toda a União. Uma derrota é europeia. Outra tem o gosto nacional. Começo pela primeira, porque mais importante.

A abstenção (globalmente) europeia

Os valores de participação no acto eleitoral deste fim-de-semana prolongado foi muito baixo. Apenas 45,5% dos eleitores votaram. São resultados decepcionantes, em especial nos novos países da UE. Entre estes apenas 26,4% dos eleitores votaram! É um mau áugurio para o futuro a 25. Poderá não ser só um problema da União Europeia, pode ser um problema dos povos europeus com a democracia, o que na minha opinião é ainda mais grave.

Mas será que o problema é esse? Ou será que a questão está no défice democrático europeu, de que tanto (e tão acertadamente) se tem falado? Será que o problema é Bruxelas ser "longe"? Não creio. Já repararam nas distâncias que separam a Califórnia de Washington? E Vladivostok de Moscovo?

Se calhar até há mesmo um problema de distância, mas não é física. Porque mais grave não é estar-se longe. É sentir-se que se está longe...

O PSD

O verdadeiramente único derrotado das eleições Europeias em Portugal foi o Partido Social Democrata. Não foi a Coligaçºao Força Portugal (PSD+CDS/PP). Claramente vencedores foram o PS, com uma votação histórica, o BE, com a eleição do seu primeiro deputado europeu (Miguel Portas) e a CDU, que manteve uma votação considerável. O PP não foi derrotado porque manteve o mesmo número de deputados no Parlamento Europeu. Quem perdeu, de facto, foi o PSD. E a abstenção não é desculpa (apesar de que menos de 40% de participação é significativamente pouco), pois houve um claro aviso ao Governo de que o país está "aborrecido" com estes governantes.

Que ilações se retiram daqui? Que a junção entre estes dois partidos não tem os votos que os mesmos obteriam em separado. Isso parece-me claro. De facto há uma grande franja de eleitores do PSD que não votam no partido liderado Paulo Portas, preferindo abster-se, ou votar PS.

A verdade é que o português gosta de facilitismos e de facilidades. Gosta de festa e de futebol. Não gosta de trabalho e de poupança. E a nossa classe política e dirigente muitas vezes incentiva o laxismo, o bom exemplo não vem de cima. Assim é difícil reformar o país, e as mentalidades...

11.6.04

Frases II

Toda a gente tem de morrer, mas eu sempre acreditei que seria feita uma excepção no meu caso. E agora?
William Saroyan

Frases I

noventa por cento dos políticos dão aos restantes dez por cento uma péssima reputação
Henry Kissinger

Campanhas

José Pacheco Pereira escreveu, ontem, um artigo no PÚBLICO que merece leitura atenta.

As campanhas partidárias estão hoje ao mais baixo nível de sempre. Por entre beijos nos mercados, abraços nas lotas e apertos nos cafés, perdem-se oportunidades de debate construtivo entre os candidatos acerca das suas ideias para o país e para a Europa. A tentativa de mostrar que os políticos também se aproximam do mais banal cidadão é, por vezes, hipócrita e inconsequente.

Na minha opinião poderia substituir-se este contacto com o povo por uma perspectiva diferente. Em vez dos beijos e dos abraços, que tal calendarizar debates e prédicas a realizar periodicamente pelos candidatos, em vários pontos do país, como forma de explicação e troca de ideias políticas, e ainda como forma de sensibilização pelo voto?

Se assim fosse, ganhava-se muito em variados aspectos: a classe política sairia valorizada (pelo debate de ideias), a hipocrisia e os sorrisos forçados tenderiam a diminuir, e talvez os cidadãos se interessassem mais pela política, pelo voto, e ganhassem consideração e respeito pelos governantes e demais políticos.

9.6.04

Sousa Franco

Faleceu, hoje, Sousa Franco. Na televisão vi os seus últimos momentos, durante a sua campanha para o Parlamento Europeu, em Matosinhos. Muita confusão, muito barulho, muita gente. Ele sorria, gritava "PS! PS!", no fundo fazia o "trabalho de campo" que um político faz nestas ocasiões. Nada fazia prever o desfecho, nada fazia prever que, quando ele entrou no carro, seria a última vez que o fazia, e que dele já não sairia com vida.

Sousa Franco foi um brilhante académico, um distinto Professor de Finanças. Fundador do PPD, seu Presidente, mudou mais tarde de rumo para o PS, sendo Ministro das Finanças do Governo de António Guterres. Pessoa séria, culta e inteligente, critiquei-o muitas vezes devido às opções políticas que tomou no Ministério. Apesar destas divergências, acho que devo sublinhar as suas fortes convicções.

Era um político independente, e que poderia dar um bom parlamentar europeu. O PS apostava já nele como candidato a Presidente da República. Perde-se, sobretudo, um homem bom (não o conhecendo pessoalmente, parecia-me), servidor do todo público, e com amor pelo nosso país.

8.6.04

Ruanda, versão 2

"Um Milhão de Pessoas à Beira da Morte no Ocidente do Sudão", titulava uma notícia no PÚBLICO de Segunda-Feira. Sem grandes parangonas na capa (aliás, sem qualquer referência de maior à notícia), assim estava ela, meia esquecida. A falha não foi só do PÚBLICO, no entanto. Todos os outros jornais de referência também minoraram (ou esqueceram) o assunto.

Mas este assunto não é menor. Pelo contrário.

Há já algum tempo que várias instituições internacionais (International Crisis Group, as Nações Unidas) vêm avisando para a possível catástrofe humanitária no Sudão. Em especial na zona de Darfur, no ocidente do país (junto à fronteira com o Chade), "mais de um milhão de pessoas estão em situação desesperada". O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos avisa que se não se actuar com rapidez, o número de mortos será maior que 300 mil! Repare-se no macabro da situação: 300 mil mortes são já assumidas como certas, a esse valor já não há nada a retirar. Podemos é tentar evitar que sejam 3 ou 4 vezes mais...

É assustador, é tétrico, é inefável! E é real.

Tudo começou no ano passado, quando dois grupos rebeldes atacaram instalações governamentais, por causa da marginalização que certos sectores do país (em especial da região de Darfur) sentem. Basicamente, os agricultores das regiões ocidentais sentem-se discriminados pelo governo árabe de Cartum, governo este que apoia milícias árabes (janjaweed) que espalham o terror pelo país.

10 anos passados após o genocídio do Ruanda (que - dizendo-o de uma forma eufémica - diminuiu em 800.000 a população ruandesa...), o Mundo não aprendeu com os erro cometidos. Pelos vistos, agora vai passar-se o mesmo num país seu vizinho.

À péssima maneira africana, parece que estamos a viver, hoje, o Ruanda versão 2.

O Momento

Aproxima-se o momento fatal, o momento da separação. Vénus sai da dança. O Sol fica, de novo, só...

Entretanto Vénus continua a dançar, mas agora no breu do infinito...

Vénus e Sol: o reencontro

O beijo de Vénus ao Sol foi dado hoje, às 6h20 da manhã.

Encontraram-se, juntos dançam agora, lado a lado, até ao meio-dia. Uma dança curta, mas significativa: já não dançavam juntos há mais de 100 anos.

São momentos únicos, há que aproveitá-los...

4.6.04

Novo CD dos Zen

Foi com alegria que ontem, finalmente, consegui comprar o último CD dos Zen, que vinha a semana passada com o jornal Blitz. Já procurava há uma semana, por isso fiquei contente com o "achado". Apenas ouvi o CD uma única vez, no carro, com interrupções para ouvir as notícias na TSF e a Antena 1 - na normal monotonia vibrante de uma viagem de automóvel...

O meu caro Amigo Brutal, hoje guitarrista dos Zen (além de outros projectos musicais) está de parabéns! Meu querido Amigo, quero dizer-te que fiquei surpreendido positivamente (apesar de ser apenas uma primeira impressão). O som está límpido, claro. A música tem força, vibração. Gosto do "funky" que brota da guitarra (em mistura com o virtuosismo do guitarrista...).

Momentos houve em que dei por mim a pensar que estava a ouvir Faith No More. Momentos houve em me lembrei dos Red Hot. Vindo de mim, sabes com certeza que isto é um elogio desmesurado. Mas tu, vocês, merecem-no.

Agora continuarei a ouvir. Com mais calma e atenção, e sem o bulício deste trânsito lisboeta que inquieta qualquer alma (mesmo que) inerte...

Eleições a sério?

Pego nas últimas palavras do António Luís Marinho na sua crónica de hoje no DE. Como é que esta mediocridade política actual pode querer que os portugueses votem no dia 13? Expliquem-me como!

1) Além de ser um fim de semana prolongado;
2) Além de estar um calor de praia;
3) Além de este ano não ter havido feriados em dias úteis;
4) Além de não ter também havido possibilidade de se fazerem pontes, sendo esta a primeira vez que tal acontece,

como é que os políticos querem que vamos votar, se eles não merecem qualquer credibilidade, e a sua atitude nos envergonha a todos e descredibiliza totalmente a política?

Como é que distintos Professores Catedráticos, ex-Ministros de um país, se aguentam à frente de uma campanha miserável? Como é que se deixam enredar pela falta de nível de certos caciques partidários, imberbes, que nunca fizeram nada de relevante na vida?

A vitória da abstenção vai ser, nestas eleições, irreprimível. E vai sê-lo com total justiça.

Exigências da escrita

Tenho de fazer uma força para escrever mais. Quando iniciei este blog o objectivo era começar a dar, porque até agora só recebia - ou seja, lia, lia, lia, mas não dava (escrevia) nada.

Mas tem-me sido complicado. É muito mais cómodo ler. Escrever exige muito mais.

Mas vou-me esforçar. "O caminho faz-se caminhando". Já dei o primeiro passo, e embora a viagem esteja a ser trôpega, espero que entretanto se uniformize a velocidade da criação escrita...

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